Presença confirmada na Herdade do Freixo do Meio
Mustela putorius Linnaeus, 1758
Toirão
Morfologia de Mustela putorius
Informação detalhada sobre Mustela putorius
Origem: Nativa
Endémica: Não
Invasora: Não
Protegida: Sim. Anexo III Convenção de Berna. Anexo B V da Directiva Habitats
Explorada: Não
Perigosa: Não
Distribuição – Europa (exceto Balcãs, costa este do Adriático, ilhas do Mediterrâneo, Irlanda, Islândia, norte da Escandinávia), oeste da Ásia e norte de África (Marrocos)
Habitat – generalista. Pode ocupar uma grande diversidade de habitats, desde zonas ripícolas e agrícolas a prados e áreas florestais (sobretudo em terras baixas)
Guilde Trófica – Predador
Estatuto de Proteção – Mundo (IUCN): Pouco Preocupante - LC; Portugal (ICNF): Informação Insuficiente - DD
Morfologia
Peso (macho) – 0,5 a 1,5 kg
Peso (fêmea) – 0,4 a 0,8 kg
Comprimento corpo (macho) – 30,5 a 46 cm (cauda cerca 14 cm)
Comprimento corpo (fêmea) – 29 a 35,5 cm (cauda cerca 12,5 cm)
Fórmula dentária – 3/3, 1/1, 3/3, 1/2 = 34
Dimorfismo sexual – acentuado (macho maior e mais pesado que a fêmea)
Informação adicional e observações
Descrição Geral – É um mustelídeo que possui uma pelagem geralmente castanho-escura, mais clara na zona dos flancos. Característica distintiva dos outros Mustelidae é a “máscara” castanho-escura ou preta sobre os olhos, rodeada por uma mancha esbranquiçada no focinho, entre os olhos e as orelhas e no rebordo das orelhas. O pelo é mais escuro no verão. Os toirões das populações da Europa do leste tendem a ser de menor tamanho e a sua pelagem mais clara. Ocasionalmente, devido a mutações na coloração, podem existir indivíduos albinos (com falta de pigmentação) e eritristas (com excesso de pigmentação vermelha). O corpo é alongado com patas relativamente curtas e a cabeça é pequena e achatada com orelhas arredondadas e olhos pequenos. Apresenta cinco dedos em cada pata, mas por vezes nas pegadas só ficam marcados quatro. Os dedos das patas traseiras são longos e possuem membranas interdigitais parciais. As garras são levemente curvadas e não retrácteis nas patas traseiras, mas fortemente curvadas e parcialmente retrácteis nas patas dianteiras. Os seus dejetos (6-8 cm comprimento e menos 1 cm largura) são negros, retorcidos e afilados nas extremidades. Estes têm um odor forte e geralmente observam-se neles pelos, penas e ossos. Os parentes vivos mais próximos são o toirão-das-estepes (Mustela eversmanii), o toirão-de-patas-negras (Mustela nigripes) e o visão-europeu (Mustela lutreola). Estão descritas 22 subespécies de Mustela putorius, duas distribuem-se pela Península Ibérica: M. p. putorius no norte e M. p. aureolus no centro e sul. Esta última caracteriza-se por ser maior e apresentar uma pelagem mais clara.
Distribuição – Nativo da Europa (exceto Balcãs, costa este do Adriático, ilhas do Mediterrâneo, Irlanda, Islândia, norte da Escandinávia), oeste da Ásia e norte de África (Marrocos). Em Portugal continental estima-se que o toirão apresente uma distribuição generalizada mas descontínua.
Ecologia alimentar – É um predador generalista. A sua alimentação baseia-se principalmente em lagomorfos, pequenos roedores e anfíbios, podendo ainda consumir aves, répteis e insetos. No geral o consumo de produtos de origem vegetal é quase irrelevante. O facto de os roedores estarem entre as suas presas preferenciais faz do toirão um predador importante ao nível do equilíbrio dos ecossistemas. A sua dieta depende da sazonalidade na disponibilidade dos recursos alimentares. Para além disso é uma espécie que, na sua área de distribuição, apresenta especializações de dieta ao nível local.
Predadores – O toirão pode ser predado pelo lobo (Canis lupus), raposa-vermelha (Vulpes vulpes), bufo-real (Bubo bubo), gato-bravo (Felis silvestris), cães e gatos assilvestrados.
Reprodução – É uma espécie polígama (os machos acasalam com todas as fêmeas recetivas). A maturidade sexual é atingida com cerca de 10 meses. O cio e o acasalamento ocorrem entre Março e Maio. A gestação dura 42 dias. As crias, de três a sete, nascem geralmente no final da Primavera, o desmame ocorre por volta do primeiro mês de vida e ficam independentes aos 2-3 meses. Geralmente produz uma ninhada por ano, porém se essa não sobreviver a fêmea pode dar à luz novamente nesse mesma estação. Durante o primeiro ano de vida a taxa de mortalidade pode chegar aos 70-90%. Em liberdade a esperança média de vida geralmente não ultrapassa os cinco anos, mas sob cuidados humanos pode chegar aos 14 anos.
Organização social – As fêmeas reprodutoras acomodam-se em áreas discretas (0,4 – 3 km2), enquanto os machos reprodutores e os juvenis possuem áreas vitais mais amplas (1,5 – 5,0 km2). As características das suas áreas vitais variam consoante a estação do ano, o habitat, o sexo e o estatuto social. Esta espécie é muito menos territorial que outros mustelídeos, sendo observados frequentemente animais do mesmo sexo a partilhar áreas vitais.
Comportamento – É um animal territorial e solitário (exceto durante a época de acasalamento). Predominantemente noturno, apresenta picos de atividade ao crepúsculo, podendo ocasionalmente movimentar-se durante o dia (principalmente as fêmeas no verão quando saem para caçar para as crias). O tipo de habitat que frequenta varia ao longo do ano, os prados são muito utilizados no verão e inverno, as áreas florestais no verão e outono e as zonas húmidas têm um uso crescente entre o inverno e a primavera. Para se refugiar escava o próprio abrigo, utiliza antigas tocas de outros animais (coelho, raposa, texugo) ou ocupa fendas entre rochas. Como predador oportunista tem fama de por vezes capturar grandes quantidades de presas (particularmente anfíbios). Para tal enfraquece-as e paralisa-as, furando-lhe o crânio com os dentes, e depois esconde-as numa toca para as consumir mais tarde. Quando se sente ameaçado ou para marcação territorial produz, através das glândulas anais, um odor almiscarado forte. De difícil observação na natureza devido aos seus hábitos discretos.
Doenças e Parasitas – O toirão pode sofrer/transmitir cinomose, gripe, resfriado e pneumonia. Ocasionalmente é afetado por tumores malignos e hidrocefalia. Pode ainda ser portador de parasitas e bactérias causadores de doenças. Os ectoparasitas mais comuns são as carraças, encontradas por vezes em grande número no pescoço e por trás das orelhas.
Estatuto de conservação e Ameaças – Em Portugal não existe muita informação sobre o toirão, daí a espécie estar classificada com o estatuto de Informação Insuficiente (DD). Reconhece-se no entanto que a sua população é pouco abundante e encontra-se em declínio. Mustela putorius está incluída no Apêndice III da Convenção de Berna e no Anexo V da Directiva Habitats. As ameaças à sua conservação incluem a destruição do habitat (incluindo drenagem das zonas húmidas e destruição da vegetação ripícola), a perseguição direta e os atropelamentos, o declínio das populações das presas principais, a utilização de pesticidas e raticidas, a hibridação com o furão (Mustela putorius furo) e a competição com o visão-americano. Atualmente desconhece-se em Portugal o impacto destas duas últimas ameaças.
Medidas de conservação – É importante aprofundar o conhecimento sobre a sua distribuição e abundância. É ainda essencial controlar eventuais populações ferais na natureza. Outra medida a ter em conta na proteção desta espécie passa pela sensibilização ambiental de modo a alterar a imagem negativa da espécie.
Relação com o Homem – Historicamente a espécie é vista de forma negativa pelo Homem, sendo inclusive sinónimo de promiscuidade na literatura Inglesa mais antiga. Alguns mal-entendidos sobre o seu comportamento, por exemplo como animais sedentos de sangue, ainda persistem em algumas zonas rurais. O toirão é o ancestral mais provável do furão, versão domesticada no sul da Europa há mais de 2000 anos, inicialmente para controlo de roedores. Para além do comércio das peles, também são conhecidas a sua utilização na caça ao coelho ou como animal de companhia. As características externas não permitem a distinção entre os híbridos toirão-furão e toirão puro. Em Portugal, os furões passaram a ser permitidos como animais de companhia (ao abrigo do Decreto-lei 211 de 3 de Setembro de 2009, pela Portaria 7 de 5 de Janeiro de 2010), desde que registados no Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
Curiosidades – Possivelmente a primeira parte do seu nome deriva do francês “poule”, que significa “galinha” (devido à sua preferência por estas aves domésticas) ou pode ser uma variante do inglês antigo “ful”, que significa “fedorento”.
Referências
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