Mustela nivalis Linnaeus, 1766

Doninha

Morfologia de Mustela nivalis

 © Faísca

Informação detalhada sobre Mustela nivalis

Origem: Nativa
Endémica: Não
Invasora: Não
Protegida: Sim. Convenção de Berna (anexo III)
Explorada: Não
Perigosa: Não

Descrição geral da espécie
-Morfologia: Muito pequena e esguia, com um comprimento corporal até 25 cm e a cauda até 6 cm (≈30 % do corpo), a doninha é o menor carnívoro do mundo (ordem carnívora)[1]. O pescoço e o corpo são alongados e os membros curtos [2,3]. A pelagem, muito curta e densa, varia entre castanho canela e castanho chocolate no dorso, sendo branca na parte ventral. Os limites das colorações podem ter forma recta ou sinuosa. Completa duas mudas por ano, uma na Primavera e outra no Outono. Em latitudes elevadas a pelagem de Inverno pode ser totalmente branca [3].Quanto às patas, possuem 5 dedos, com unhas não retrácteis e podem ser de coloração branca ou igual à dorsal [2,3].
Embora possa ser confundido com o arminho, é facilmente distinguível deste por não apresentar a ponta da cauda preta, característica do arminho [2,3].
-Comprimento: Na Península Ibérica as fêmeas adultas variam entre 16,5 e 19 centímetros enquanto os machos variam entre 17,5 e 25 centímetros [2,3].
-Peso: Entre 49 e 80g para fêmeas e entre 90 e 223g para machos [2,3].
-Dimorfismo sexual: Apenas no comprimento e no peso corporal é registado um acentuado dimorfismo sexual, sendo que os machos são 10-20% maiores que as fêmeas. Contudo o comprimento também varia ao longo da sua faixa de distribuição e até mesmo a nível individual [2,3].
-Formula dentária: 3.1.3.1/3.1.3.2 [2, 3].

Distribuição e abundancia
-Mundial: A doninha apresenta uma distribuição holárctica, está presente na América do Norte, maior parte da Ásia e Norte de África bem como por toda a Europa, sendo apenas excepção a Irlanda, Córsega e Islândia [4]. Foi ainda introduzida na Nova Zelândia e na Austrália com a intenção de ajudar a combater as pragas de coelhos e roedores [3,4].
-Em Portugal: É considerada uma espécie comum, com uma distribuição uniforme de norte a sul do país. Está também presente na ilha dos Açores, onde se julga ter sido introduzida [3,5]. A sua abundãncia varia em correlação com a das suas presas, podendo assim suceder-se períodos de quase extinção e intensa recolonização. Não obstante, em Portugal a tendência parece apontar para um decréscimo nos efectivos populacionais [2].

Ecologia
-Habitat: A doninha pode habitar numa grande variedade de habitats, como por exemplo bosques abertos, campos de cultivo, pradarias, dunas, zonas ripícolas e até mesmo prados alpinos. A selecção dos seus habitats recai, sobretudo, na abundancia de alimento disponível, especialmente micromamíferos. Pode inclusivamente ocupar territórios perto de casas [2,4].
-Hábitos alimentares: Trata-se de um predador especializado no consumo de mamíferos, o seu principal grupo de presas são os roedores, com especial destaque para o género Microtus (ratos-cegos). Caso esta fonte de alimento não se encontre disponível alimenta-se de lagomorfos (como o coelho-bravo), ovos e crias de aves ou ainda de lagartos, anfíbios, minhocas e até de mamíferos de maior porte que encontre já mortos. Pode ainda incluir na sua dieta frutos, sementes, vegetais e insectos [2,4]. Como consequência do elevado dimorfismo sexual podem existir diferenças significativas na dieta de machos e fêmeas, sendo que estas se encontram mais dependentes de micromamíferos [2,4].
-Comportamento: Devido o seu elevado índice superfície/volume, consequência da sua reduzida massa corporal, apresenta elevados gastos energéticos no que á termorregulação diz respeito. Assim sendo necessita de uma regular ingestão de alimento (5-10 presas/24h), o que leva a que se encontre activa tanto de dia como de noite, intercalando algumas horas de actividade com outras de descanso [4]. Caça sobretudo em terra, sendo que o seu pequeno tamanho e forma do corpo tubular lhe permitem entrar nas tocas e tuneis de roedores. Todavia pode perseguir presas tanto em árvores como na água.
-Organização social: Com excepção da época de reprodução, são animais solitários. Inclusivamente os laços entre as fêmeas e as suas crias são restritos ao período de lactancia, cerca de 2 meses. As áreas vitais dos machos, que em Portugal variam entre 500 m2 e 0,43 km2, podem incluir uma ou mais áreas vitais de fêmeas. Quanto ao seu território, é ferozmente defendido de adultos do mesmo sexo, sendo porém frequente os machos, na altura da reprodução, abandonarem o seu território em busca de fêmeas [6].    Em questões de territorialidade, a abundancia de presas parece ser mais determinante que a reprodução [2,4].
-Reprodução: Esta é uma das poucas espécies de mustelídeos em que a implantação não é diferida, fixando-se os embriões na parede do útero materno logo após o acasalamento [4]. O período de reprodução ocorre normalmente entre Março e Julho, sucedendo os nascimentos (4 a 6 crias) 34 a 37 dias depois do acasalamento. Contudo a actividade reprodutora parece ser influenciada por factores ambientais, tais como o fotoperíodo e a disponibilidade de alimento, podendo assim reproduzir-se em qualquer altura do ano. Durante a fase em que estão sexualmente activos, os machos procuram acasalar com o maior número de fêmeas, não participando depois na criação da ninhada. O desenvolvimento das crias é rápido, podendo as fêmeas atingir a maturidade sexual aos 3/4 meses. Este facto, aliado com o de que podem produzir 2 ninhadas por ano, permite às doninhas um rápido crescimento populacional [2,4].

Interesse económico e relação com o Homem
Em zonas rurais tem sido perseguida esporadicamente pelo homem, principalmente por ser considerada um predador de espécies cinegéticas de aves, sendo pouco valorizado o seu papel benéfico no controle de roedores [2, 6].

Estatuto de conservação e ameaças
-Mundial/Portugal: A doninha, tanto a nível mundial como nacional, não se encontra incluída em nenhuma das categorias de ameaça, sendo a sua situação considerada como “pouco preocupante” tanto pela “The IUCN Red List of Threatened Species” como pelo “Livro Vermelho dos vertebrados de Portugal” [7,8].
-Ameaças: Quanto às ameaças a que está sujeita, é de referir o abando rural e a consequente degradação e fragmentação do seu habitat devido ao crescimento de matos. Este facto leva à diminuição das áreas abertas onde normalmente esta espécie se alimenta. É também de salientar o uso de rodenticidas que é responsável pelo envenenamento de inúmeros indivíduos. Tal como acontece com os outros carnívoros, os atropelamentos têm um forte contributo para a diminuição dos efectivos populacionais. Por ultimo, um outro factor de relevo são as lesões cranianas provocadas por endoparasitas típicos de algumas espécies de mustelídeos, como é o caso do nematode Skrjabingylus nasicola, que origina uma redução da probabilidade de sobrevivência [2,4].

Acções de conservação
No panorama internacional, apenas se encontra incluída no Anexo III da convenção de Berna.
A nível nacional não existe nenhuma acção de conservação específica [4].


Referências
[1] Brown R.W., Lawrence M.J., Pope J. 2004. Animals: tracks, trails and signs. London: Bounty books.
[2] Palomo L. J., Gisbert  J.,  Blanco J. C. (2007). Atlas y Libro Rojo de los Mamíferos Terrestres de España.Dirección General para la Biodiversidad-SECEM-SECEMU, Madrid.
[3] Sheffield S. R., King C. M. 1994. Mustela nivalis. Mammalian Species No. 454. Amer. Soc. Mamm.
[4] Loureiro F, Pedroso N., Santos M. J., Rosalino L. M. eds. 2012. Um olhar sobre os carnívoros portugueses ed. 1. Lisboa: Carnivora - Núcleo de Estudos de Carnívoros e seus Ecossistemas.
[5] Mathias M. L., Ramalhinho M. G., Santos-Reis M., Petrucci-Fonseca F., Libois R., Fons R., Ferraz de Carvalho G., Oom M. M., _Collares-Pereira M. 1998. Mammals from Azores islands (Portugal): na updated overview. Mammalia, 62(3): 397-407.
[6]Hunter, L. 2011. Carnivores of the world. Princeton University press
[7]IUCN 2014. The IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em: www.iucnredlist.org.
[8]ICNF 2014. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Disponível em: www.icnf.pt.