Martes foina (Erxleben, 1777)
Fuínha
Outros Nomes Comuns: papalvo
Morfologia de Martes foina
Informação detalhada sobre Martes foina
Origem: Nativa
Endémica: Não
Invasora: Não
Protegida: Sim. Está inserida no anexo III da Convenção de Berna (espécies da fauna protegidas).
Explorada: Não
Perigosa: Não
Descrição geral da espécie
-Morfologia: A fuinha ou papalvo é um mustelídeo de pequeno porte com uma pelagem de cor castanho-mel uniforme e uma mancha branca no peito, o “babete”, que se estende desde a parte inferior da face até parte mediana dos membros anteriores. Este “babete” é uma característica distintiva da espécie e responsável, em grande parte, pela designação de papalvo [1,2]. A espécie apresenta um corpo de forma fusiforme, patas e orelhas curtas, olhos circulares relativamente grandes, e uma cauda comprida e muito peluda [1,3].
-Peso: 1-2kg [1]
-Comprimento corporal: 65-85cm [1].
-Dimorfismo sexual: Existe um certo grau de dimorfismo, sendo os machos relativamente maiores do que as fêmeas [1,3].
- Fórmula dentária: 3.1.4.1/3.1.4.2 [3].
- Observação: Distingue-se da marta, Martes martes (Linnaeus, 1758), sua parente mais próxima com a qual é bastante semelhante, pelo seu menor tamanho corporal e pela dimensão e cor do “babete”, que no caso da marta é de menores dimensões e de cor amarelada [4].
Distribuição e abundância
-Mundial: Ocorre praticamente em todo o continente Europeu, com excepção da maioria das ilhas mediterrânicas, da península balcânica, da península escandinava e do Reino Unido. Na Ásia, a sua distribuição estende-se pelo Cáucaso, Mongólia, Himalaias e pelo noroeste da China [5,6].
Na Europa as populações de fuinha apresentam densidades medianas e similares às de outros carnívoros (ver 7).
-Portugal: A informação existente indica que a fuinha tem uma distribuição generalizada e contínua pelo país, mas está ausente no arquipélago dos Açores e da Madeira. Desconhece-se a sua tendência populacional e os dados relativos à abundância da espécie, até à data, são praticamente inexistentes [4,6].
Ecologia
-Habitat: Espécie versátil e generalista que utiliza um diverso leque de habitats. A preferência em termos deste requerimento varia segundo a sua área de distribuição. Por exemplo, no Centro e Norte da Europa a fuinha está principalmente associada a áreas urbanas, enquanto no Sul da Europa utiliza maioritariamente habitats florestais e o meio rural (e.g. celeiros e estábulos) [3,4,8].
Em Portugal, a espécie utiliza montados e sobreirais para repouso e deslocação, e campos cultivados e galerias ripícolas para se alimentar. Adapta-se particularmente bem a ambientes ripícolas [3,9].
-Hábitos alimentares: A fuinha é uma espécie tipicamente geralista que se alimenta de vários recursos. É um predador oportunista, cuja dieta se baseia no consumo dos recursos alimentares mais abundantes [3,8]. No Centro e Norte da Europa, a dieta da espécie é constituída maioritariamente por micromamíferos, ainda que se alimente de outros recursos como répteis, aves, insectos e também de coelhos. No Sul, a variabilidade e maior disponibilidade alimentar inerente dos ecossistemas mediterrânicos, reflecte-se numa alimentação bastante diversificada em função das circunstâncias locais e sazonais [3,4].
Em Portugal, os dados existentes indicam os frutos e os artrópodes como principais fontes de alimento, ocorrendo uma marcada variação sazonal do consumo destes recursos. Por exemplo, os frutos são significativamente consumidos durante o Verão e Outono, sendo substituídos quando deixam de estar disponíveis por um maior consumo de ortópteros e também de micromamíferos [10,11].
-Comportamento: Apresenta hábitos maioritariamente nocturnos. Assim sendo, dorme durante o dia em locais como sótãos e orifícios naturais de árvores, e no período nocturno, divide o seu tempo entre a procura de alimento, a patrulha do território e ainda para repousar (e.g. celeiros e arbustos) [4,9]. A deposição de excrementos em locais como caminhos de terra e árvores é um importante meio de comunicação para a espécie [3,4].
-Organização social: É solitária e territorial. Apesar de por vezes os machos e fêmeas poderem partilhar a mesma área, os encontros entre estes limitam-se à época reprodutora [3,9]. O tamanho do seu território é bastante variável, podendo variar entre 0,1 e 2 km2, e sendo maior nos machos. A marcação territorial é feita a partir da deposição de montes de excrementos, as “latrinas”. [3,4,12].
-Reprodução: Início da época reprodutora em meados de Junho, dando-se o acasalamento entre Julho e Agosto. A espécie apresenta implantação diferida, assim, após um período de gestação de 55 a 60 dias, as crias só nascem entre Março e Abril. Ninhada de 3 a 4 crias, excepcionalmente 5. As crias nascem cegas e sem pelagem. O desmame dura até cerca dos 3 meses de vida e estas podem passar largos períodos de tempo com os progenitores, ainda que uns meses depois do nascimento se tornem independentes e possam dispersar. A maturidade sexual é atingida 15 meses depois do nascimento [3,4,13]. A esperança de média de vida da fuinha compreende-se entre os 8 e os 10 anos de vida, com um máximo e excepcional valor de 14 anos [3]. No entanto, em certas circunstâncias, como por exemplo a incidência de doenças, a competição com outros carnívoros (e.g. marta e geneta) e a pressão predatória por outros mamíferos (e.g. raposas), a longevidade da espécie reduz-se aos 6 anos [14,15].
Estatuto de conservação e ameaças
-Estatuto de conservação: Tanto a nível global como nacional a fuinha tem estatuto de conservação Pouco Preocupante, estando inserida no Anexo III da Convenção de Berna [5,16].
-Ameaças: Aparentemente não sofre de nenhuma ameaça ambiental em particular, no entanto, existe um conjunto de factores aos quais as populações de fuinha são susceptíveis, nomeadamente a redução e destruição de habitat e a morte devido a atropelamentos nas estradas. Tem-se ainda, por vezes, a morte por caça ilegal aquando do controle de predadores, devido em grande parte à percepção/opinião de ameaça a espécies de caça menor que recai sobre a fuinha [3,4].
Acções de conservação
Apesar dos potenciais factores – enunciados anteriormente - que podem afectar negativamente as populações de fuinha, actualmente, segundo os resultados da pesquisa bibliográfica, não existem medidas em particular e que se destaquem (pela importância e escala) no que concerne à conservação da espécie.
Curiosidades
Dorme em sítios bastantes peculiares como sótãos e pilhas de cortiça.
Em zonas da Europa central, particularmente nevosas, a fuinha para se proteger do frio recorre, por vezes, a lugares aquecidos como os motores dos carros. Daí resulta alguns fios ruídos do motor e também das tubagens. Curiosamente não existe nenhum registo de fuinhas mortas associado a estes eventos. Em certas zonas estes actos são encarados com uma problemática.
É dos poucos mamíferos carnívoros que consegue predar ratazanas.
Referências
[1] Rosalino LM, Domingos S, Rodrigues M, Santos-Reis M. 2005. Body size and population structure of sympatric carnivores in a Mediterranean landscape of SW Portugal. Revista Biologia (Lisboa) 23:135-146.
[2] Macdonald DW. 2001. The encyclopedia of mammals. The Brown Reference Group, London, UK.
[3] Palomo LJ, Gisbert J, Blanco JC. 2007. Atlas y Libro Rojo de los Mamíferos Terrestres de España. Dirección General para la Biodiversidad-SECEM-SECEMU, Madrid.
[4] Santos MJ, Matos HM. 2012. Fuinha (Martes foina): a nossa vizinha. Pp. 121-129 in: Um olhar sobre os carnívoros portugueses (Loureiro F, Pedroso NM, Santos MJ & Rosalino LM, eds.) CARNIVORA. Lisboa.
[5] Tikhonov A, Cavallini P, Maran T, Krantz A, Herrero J, Giannatos G, Stubbe M, Libois R, Fernandes M, Yonzon P, Choudhury A, Abramov A, Wozencraft C. 2008. Martes foina. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>. (acedido Março 2014).
[6] Proulx G, Aubry K, Birks J, Buskirk S, Fortin C, Frost H, Krohn K, Mayo L, Monakhov L, Payer D, Saeki M, Santos-Reis M, Weir R, Zielinski W. 2004. World distribution and status of the genus Martes in 2000 (chapter 2). Pp. 21-76. Em: DJ Harrison, AK Fuller, G Proulx (eds.) Martens and fishers (Martes) in human-altered environments: an international perspective. Springer, New York.
[7] Carbone C, Gittleman JL. 2002. A common rule for the scaling of carnivore density. Science 292: 2273-2276.
[8] Mangas J. 2009. Garduña – Martes foina. En: Salvador A, Cassinello J. (Eds.). Enciclopedia Virtual de los Vertebrados Españoles.. Museo Nacional de Ciencias Naturales, Madrid.
[9] Santos-Reis M, Santos MJ, Lourenço S, Marques T, Pereira I, Pinto B. 2004. Relationships between stone martens, genets and cork oak woodlands in Portugal. Pp. 147-172 in: Harrison DJ, Fuller AK, Proulx G. (Eds.). Marten and fishers (Martes) in human-altered environments: An international perspective. Spring Science + Business Media, New Yourk, USA.
[10] Santos MJ, Pinto B, Santo-Reis M. 2007. Is trophic niche partitioning the solution for the coexistence of carnivores in a Mediterranean landscape of SW Portugal? WebEcology 7:53-62.
[11] Santos MJ. 1998. Interacções espaciais e tróficas da comunidade de carnívoros da Serra de Grândola. Relatório de Estágio para obtenção da Licenciatura em Biologia Aplicada aos Recursos Animais. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa.
[12] Mitchell-jones AJ, Amori G, Bogdanowicz W, Krystufek B, Reijnders PJH, Spittzenberger F, Stubbe M, Thissen JBM, Vohralík V, Zima J. 1999. The atlas of European mammals. Academic Press, London.
[13] Nowak R. 1999. Walker`s mammals of the world, Vol I. 6.ª Edição. The Johns Hopkins University Press, Baltimore.
[14] Palomares F, Caro TM. 1999. Interspecific killing among mammalian carnivores. The American Naturalist 153(5): 492-508.
[15] Libois R. 1991. La fouine (Martes foina Erxleben, 1777). Encyclopedie des carnivores de France. Sociate Francaise pour l`Etude et la Protection des Mammiferes, 10.
[16] Cabral MJ, Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiroz AI, Rogado L, Santos-Reis M (eds.). (2005). Livro vermelho dos vertebrados de Portugal: peixes dulciaquícolas e migradores, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.