Presença confirmada na Herdade do Freixo do Meio
Genetta genetta (Linnaeus, 1758)
Gineta
Outros Nomes Comuns: geneta, gato-gineto, gato-toirão ou gato-bravio
Morfologia de Genetta genetta
Informação detalhada sobre Genetta genetta
Origem: Introduzida. De origem Africana.
Endémica: Não
Invasora: Não
Protegida: Sim. Anexo III da convenção de Berna.
Explorada: Não.
Perigosa: Não.
Descrição geral da espécie
- Morfologia: Carnívoro de médio porte, de corpo alongado , extremidades curtas e cauda longa[1,2,3]. A sua pelagem acinzentada é caracterizada por manchas negras, alinhadas longitudinalmente relativamente ao corpo, que se unem no dorso para formar uma banda continua de pelos erécteis, que se estende da cabeça à base da cauda[1,2,4,5]. Nas patas possui cinco dedos com garras curtas, finas e semi-retracteis[2,3], especializadas para trepar árvores. Na cauda apresenta 8 a 10 anéis negros[1].
- Comprimento corporal: O comprimento médio cabeça-corpo varia entre 47-60cm e o da cauda entre 40-51cm[6].
- Peso: 1,2-2 kg[6].
- Dimorfismo sexual: Pouco acentuado, ainda que os machos sejam tendencialmente maiores e mais pesado que as fêmeas[4,5,6].
- Fórmula dentária: 3.1.4.2/3.1.4.2.[7]
Distribuição e abundância
- Mundial: Actualmente esta espécie ocorre na África sub-sahariana, na África do Norte, sudoeste da Europa e Arquipélago das Baleares (ilhas Maiorca, Cabrera e Ibiza)[8]. A sua distribuição no continente Europeu está restringida à península ibérica, Sudoeste de França e Itália[8].
- Em Portugal: Possui uma distribuição generalizada em Portugal continental, encontrando-se ausente dos arquipélagos dos Açores e da Madeira[8], sendo um dos mamíferos carnívoros mais abundantes em território Nacional. Um estudo realizado na Serra da Malcata calculou uma densidade média de geneta de 0.7 indivíduos por km2[9].
Ecologia
- Habitat: Considerada uma espécie cosmopolita, capaz de ocupar um vasto leque de habitats, a geneta revela uma preferência por áreas arborizadas[10] e de coberto vegetal denso[11], que fornecem simultaneamente abrigo e alimento[4,10]. Sobreirais, montados ou olivais são exemplos de habitats onde a presença desta espécie é comum, em contraste com zonas abertas e plantações, onde esta é rara[4,10]. Certos estudos sugerem uma associação positiva a corredores de vegetação ripícula[10,12], porém, a importância relativa deste habitat está aparentemente relacionado com as características da matriz envolvente[13]. A ocorrência desta espécie a altitudes superiores a 1000m é incomum[11]. A intensidade de perturbação humana é também um factor importante na selecção de habitat. A geneta evita zonas perto de habitações e estradas[14], embora níveis intermédios de pastoreio possam promover a presença desta espécie[1].
- Hábitos alimentares: A Geneta ocupa uma posição intermédia entre os carnívoros especialistas e generalistas[15]. Consome preferencialmente micro-mamíferos[16,17], por vezes incluindo na sua alimentação outros recurso como insectos, répteis, aves, ou frutos[15]. A sua dieta é marcada por uma importante variação sazonal e espacial. Devido a esta plasticidade, a geneta é considerada uma espécie especialista facultativa, com uma preferência clara por micromamíferos, explorando outros recursos de acordo com a sua disponibilidade[1].
- Comportamento: Espécie de hábitos nocturnos ou crepusculares[4,10,18], embora indivíduos juvenis demonstrem certa actividade diurna[4]. Durante o período diurno repousa em esconderijos naturais tais como cavidades em árvores, fendas em rochas ou silvados densos[12]. A Geneta é uma espécie trepadora, dotada de um grande equilíbrio conferido pela sua longa cauda. Sinais odoríferos desempenham um papel crucial na marcação de territórios e comunicação interspecifica, fundamentalmente através de excrementos depositados em latrinas[2,5].
- Organização social: É um carnívoro solitário e territorial[4,10]. Com uma área vital média de cerca de 3km2[12], ocupam territórios exclusivos entre individuos do mesmo sexo, sendo que a sobreposição de domínios vitais apenas se verifica entre macho e fêmeas[4,10]. A dimensão do território está aparentemente relacionada com o tamanho relativo e a distribuição de manchas de habitat preferencial[10]. Um estudo de telemetria realizado no Parque nacional de Doñana, Sul de Espanha, indica que um animal individual desloca-se cerca de 3km por dia[10]. Novamente, esta distancia varia com o tamanho individual, as características da paisagem, assim como a distância entre locais de descanso[11].
- Reprodução: O período reprodutor estende-se ao longo de todo o ano, evidenciando-se dois picos de reprodução distintos, em Fevereiro-Março e Julho-Agosto[4,5]. O período de gestação é de 11 semanas. Oito semanas após o nascimento, as crias de uma ninhada, com uma média de 2-3 indivíduos, deixam a toca e acompanham a progenitora até aos 12 meses de idade, período após o qual se tornam independentes. Aos 2 anos de idade atingem a maturidade sexual[5].
Embora não existam registos da sua longevidade em meio natural, em cativeiros as genetas podem atingir os 16 anos de idade[3,4].
Estatuto de conservação e ameaças
- Mundial: “Pouco Preocupante”[8].
- Em Portugal: “Pouco Preocupante”[19].
- Ameaças: As principais ameaças são fundamentalmente de carácter antropogenético, podendo destacar-se a destruição e fragmentação de habitat[8], atropelamento[20] e medidas de controle de predadores implementadas pelas Zonas de Caça dos diversos regimes cinegéticos[8].
Acções de conservação
A conservação da Geneta em Portugal pode ser promovida implementando medidas que mitiguem os efeitos negativos causados por infraestruturas rodoviárias, como passagens para fauna. No entanto, a nível nacional não existem medidas em particular e que se destaquem (pela importância e escala) no que concerne à conservação da espécie.
Curiosidades
A origem desta espécie no continente europeu é ainda tópico de debate. Uma hipótese sugere que a geneta invadiu a Europa por expansão natural antes da abertura do estreito de Gibraltar[2,7]. Duas teorias alternativas sugerem que a espécie foi introduzida pelo Homem. A hipótese com maior suporte empírico, baseado em estudos de cariz genético, sugere que terão sido os Árabes a trazer a geneta para a península ibérica como animal de estimação, seguindo-se uma expansão natural da sua distribuição[2,3,11].
Vários autores referem que outrora, anteriormente à domesticação do gato, as genetas terão sido utilizadas como exterminadoras de ratos nas habitações[2,4,11].
Referências
[1] Matos HM. 2012. Geneta (Genetta genetta): A Trepadora Africana. Pp. 168-179. Em: F Loureiro, NM Pedroso, MJ Santos, LM Rosalino (eds.) Um olhar sobre os carnívoros portugueses. CARNIVORA, Lisboa.
[2] Macdonald Dw (ed.). 2001. The new encyclopedia of mammals. Oxford University Press, Oxford.
[3] Piñero JR. 2002. Mamíferos carnívoros ibéricos. 2.ª ed., Lynx Edicions, Barcelona.
[4] Larivière S, Calzada J. 2001. Genneta genetta. Mammalian Species 680:1-3
[5] Palomo LJ, Gisbert J. (eds.) 2002. Atlas de los mamíferos terrestres de Espña. Sociedade Española para la Conservación y Estudio de los Mamíferos, Málaga.
[6]Rosalino LM, Santos MJ, Domingos S, Rodrigues M, Santos-Reis M. 2005. Population structure and body size of sympatric carnivores in a Mediterranean landscape of SW Portugal. Revista de Biologia (Lisboa) 23(1-4): 135-146.
[7] López-Martín, JM. 2007. Martes martes (Linnaeus, 1758). Pp: 302-304. Em: LJ Palomo, J Gisbert, JC Blanco (eds.). Atlas y libro rojo de los mamíferos terrestres de España. Dirección General para la Biodiversidad - SECEM - SECEMU, Ministerio de Medio Ambiente, Madrid.
[8]Herrero, J. & Cavallini, P. 2008. Genetta genetta. Em: IUCN. 2013 IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em: http://www.iucnredlist.org (acedido Março 2014).
[9] Sarmento P, Cruz J, Eira C, Fonseca C (2009) Habitat selection and abundance of common genets Genetta genetta using camera capture-mark-recapture data. European Journal of Wildlife Research 56:1–8.
[10] Palomares F, Delibes M. 1994. Spatio-temporal ecology and behaviour of European genets in southwestern Spain. Journal of Mammology 75:714-724.
[11]Virgós E, Romero T, Mangas JG. 2001. Factors determining “gaps” in the distribution of a small carnivore, the common genet (Genetta geneta), in central Spain. Canadian Journal of Zoology 79:1544-1551.
[12] Santos-Reis M, Santos MJ, Lourenço S, Marques JT, Pinto B. 2005. Relationships between stone martens, genets and cork oak woodlands in Portugal. Pp. 147-142. Em: DJ Harrison,AK Fuller, G Proulx. (eds), Marten and fishers (Martes) in human-altered environments: an international perspective. Springer Science and Business Media, Inc., New York.
[13] Galantinho A, Mira A. 2009. The influence of human, livestock, and ecological features on the occurrence of genet (Genetta genetta) : a case study on Mediterranean farmland. Ecological Research 24:671-685.
[14] Espírito-Ssanto C, Rosalino LM, Santos-Reis M.. Factors Affecting the Placement of Common Genet Latrine Sites in a Mediterranean Landscape in Portugal. Journal of Mammalogy 88(1): 201-207
[15] Virgós E, Llorente M, Cortés Y. 1999. Geographical variation in genet (Genetta genetta L.) diet: a literature review. Mammal review 29(2):119-128.
[16] Rosalino LM, Santos-Reis M. Feeding habits of the common genet Genetta genetta in a man-made landscape of central Portugal. Mammalia 66(2): 195-205.
[17] Carvalho JC, Gomes P. 2004. Feeding resource portioning among four sympatric carnivores in the Peneda-Gerês National Park. Journal of Zoology 263: 275-283.
[18] Camps D. 2008. Activity patterns of adult common genets Genetta genetta (Linnaeus, 1758) in Northeastern Spain. Galemys 20(1):47-60.
[19] Cabral, MJ (coord.), Almeida J, Almeida PR, Dellinger T, Ferrand de Almeida N, Oliveira ME, Palmeirim JM, Queiróz AI, Rogado L, Santos-Reis M (eds.). 2005. Livro vermelho dos vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.
[20] Grilo C, Baltazar C, Santos-Reis M, Silva C, Gomes L, Bissonette J. 2007. Patterns of carnivore road casualities in Southern Portugal. UC Davis: Road Ecology Center, Disponível online em: http://www.escholarship.org/uc/item/1vr0d0n5